Sofía d`Ávilla |
|
Eu, por exemplo, não sou natural, sou fictícia, artificial como uma bala de goma ou uma coca cola ou esses animais no zoológico ou esses tomates transgênicos ou... mais ous. Tenho medo de ser natural porque não se pode ser assim Eles me confundem com uma árvore e me devastam Ou me confundem com um rio e me envenenam Ou me confundem com um pato e me banham de óleo Ou me confundem com ar fresco e me sufocam Tenho medo de ser natural mas quando eles me verem, perceberão que minha superficialidade não é real, é fingida. E quando for tarde demais e eu não conseguir mais voltar a ser o que fui, vão cobrar minha naturalidade a que eu nunca deveria ter abandonado. Lá estou eu, tão cor de laranja e rosa e oleosa Lá estou eu, toda açucarada e composta Lá estou eu, inultilmente tentando ser aquele outrora ECO LOGICAMENTE
ECO de industrialização ainda timbrando não vamos mais deixar de produzir nunca mais, não há como regredir. Os produtos fazem parte da nossa anatomia São endógenos e inerentes à nossa existência são a essência.
LOGICAMENTE que não perdemos com isso mas nos extinguimos por excesso excesso de tudo materialista e a natureza raríssima será motivo para aumentarmos os preços de algum móvel de madeira, de uma entrada no zoológico, de um passeio numa área reservada e etc. Nada escapa da estratégia do mercado este é uma imensurável rede de nylon muito fina, nada escapa, tudo fica preso e definha.
30.12.1996 |